Podemos resumir aqui o pensamento marxista a partir de um termo criado por Marx em parceria a outro estudioso alemão, Engels. Refiro-me á “dialética marxista” ou “dialética materialista”. O termo dialética não é recente e tampouco foi criado por estes escritores. Este termo foi trabalhado primeiramente na Grécia antiga pelo filósofo Platão e desenvolvido mais tarde por Hegel. Na dialética platônica e hegeliana o que condicionaria a sociedade como um todo seria apenas o trabalho intelectual ou aquele produzido dentro das academias.
Contrariando ou fazendo crítica a dialética platônica, Marx diz que o que condiciona a sociedade não seria apenas o trabalho intelectual, más toda a forma de trabalho, ou seja, a economia condicionaria a sociedade como um todo. Marx chama o papel da economia de Infraestrutura e a sociedade de supraestrutura. Para Marx, ao falar em supraestrutura ele estaria englobando tudo que existe ou acontece na sociedade, tais como religião, artes, costumes, etc. Além disso, também se discute a luta de classes, não somente em relação a desigualdade social, em seu aspecto econômico, más também cultural.
Para falarmos sobre esta forma de realizar uma análise de textos literários, a partir de uma visão marxista, acreditamos ser necessário começarmos por explicar resumidamente as características e alguns aspectos importantes desta frente de análise literária. Ressaltando que o marxismo é uma linha de análise socioeconômica inspirada na obra do estudioso alemão Karl Marx. Porém as ideias principais do pensamento marxista também são aplicadas á analises literárias.
Obra e Autor
Escrita por José de Alencar, a obra “Senhora” foi publicada em 1875, dois anos antes da morte do escritor, pela editora Martin Claret. Na obra Jose de Alencar retrata a sociedade fluminense do século XIX, deixando transparecer características culturais, políticas e econômicas muito fortes da época. Neste momento da história brasileira o país passava por um modelo de sistema imperialista dominado pelos cafeicultores, era a época dos barões do café. Esta também era a época dos casamentos arranjados, onde os pais das noivas pagavam um dote para os futuros maridos de suas filhas. Quanto maior fosse o dote, mais e melhores pretendentes os pais arranjavam.
O nome verdadeiro do escritor era José Martiniano de Alencar. Nasceu em uma pequena cidade próxima á Fortaleza chamada Messejana, em 01 de maio de 1829. Entre as principais obras de José de Alencar destacam-se, além de Senhora, algumas obras como Lucíola, Iracema, O guarani, etc. José de Alencar morreu na cidade do Rio de Janeiro no dia 12 de dezembro de 1877. Em sua homenagem foi erguido uma estatua no Rio de Janeiro e construído um teatro em Fortaleza, cujo foi dado o nome de “Teatro José de Alencar”.
Marxismo em Senhora
Analisaremos a obra a partir de alguns trechos selecionados que apresentam aspectos debatidos pelo marxismo, já mencionados anteriormente. Serão apresentados resumos destas partes escolhidas juntamente com uma crítica especifica para cada situação.
- A história inicia-se com a ascensão socioeconômica da personagem central da trama, Aurélia Camargo. De repente ela começa a frequentar eventos da alta sociedade. Ninguém a conhecia, porém a partir deste momento ela passa a atrair a atenção de todos, pois além de ser rica possuía uma beleza imensurável. Entretanto, “Aurélia era órfã; tinha em sua companhia uma velha parenta, viúva D. Firmina Mascarenhas, que sempre a acompanhava na sociedade.” (pág. 15)
O que queremos realizar com este trecho é um aponte para duas características da época em que se passa a narrativa. Aqui, não foi explicado como ela enriqueceu, porém o que nos interessa é a ingressão da personagem em um mundo onde ela não seria aceita se não estivesse em uma posição social favorável. Também é apresentada a situação de não emancipação feminina. Se uma mulher saísse sozinha era considerada inescrupulosa.
- Aurélia passou a ser requisitada pelos melhores pretendentes do estado do Rio de Janeiro, porém ela não se deixava interessar por ninguém. Isso ocorria por Aurélia trazer consigo um segredo que mais tarde se revelaria ser o amor por Fernando Seixas, homem que a abandonara para se casar com uma moça rica, lembrando que quando isto aconteceu Aurélia era uma jovem pobre.
Este ponto da obra, que agora foi abordado, talvez seja o mais importante para essa linha de pensamento teórico que está se buscando utilizar. José de Alencar nos expõe com uma situação que podemos chamar de “comercialização do casamento”, onde a união do matrimonio se transforma em mercadoria. O que acontece nesta época é o pagamento dos chamados “dotes” para a família do noivo. Quando Fernando abandona Aurélia, ele o faz com o intuito de lucrar com o novo casamento.
- Aurélia alimentava um sentimento de vingança para com Fernando. Passa algum tempo sem velo, pois ele havia ido a negócios até Minas Gerais, é neste período em que ela enriquece. Quando Fernando retorna recebe uma proposta de casamento vinda de uma moça desconhecida. Por ser uma boa proposta, Fernando aceita o pedido de casamento mesmo sem saber quem seria sua esposa. Ele descobre quem é a noiva somente no dia de seu casamento. Fica surpreendido ao saber que sua noiva desconhecida era a mulher que amava.
Fernando aceitara se casar com uma desconhecida para, entre outras coisas, ter certeza de que suas duas irmãs poderiam “pagar por um bom marido”.
- Ao casar-se com Aurélia, Fernando acreditava que teria uma vida feliz, porém os planos de sua mulher eram diferentes. Aurélia passou a trata-lo como seu escravo, Ao ver que sua vida estava se transformando em um inferno, Fernando propõe á devolução do dote recebido a ela, querendo em troca o divorcio. Ao ver a atitude de Fernando a jovem decide perdoa-lo e expõe a ele seus verdadeiros sentimentos. Como em muitos romances, para haver um final feliz, eles acabam juntos.
Considerações finais
A obra escolhida para ser objeto de uma análise marxista apresenta um número superior de características que podem ser visualizadas a partir desta teoria, como por exemplo, o sistema de escravidão que é relatado durante a narração. Entretanto, demos atenção aos fatos ligados aos personagens centrais, o que reduz o objeto consideravelmente.
Por não ser uma teoria especificamente literária, para realizar esta analise marxista proposta, faz-se necessário o conhecimento da contextualidade da obra e autor. Porém é uma analise prazerosa de ser feita, pois refere-se a aspectos da realidade.
Referencias Bibliográficas
ALENCAR, José de. Senhora. 3. Ed. São Paulo: Martin Claret, 2011.
Eduardo Alves dos Santos
Acadêmico de Licenciatura em Letras
Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS